A safra de grãos 2016/2017 deve atingir o recorde de 227,9 milhões de toneladas, com incremento estimado de 22,1% em relação à de 2015/2016, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A notícia é boa para o agronegócio e incrementa, também, a demanda pelos serviços de transporte.
No entanto, a infraestrutura inadequada deve representar uma dificuldade para o escoamento da produção. Em fevereiro, produtores e embarcadores enfrentaram problemas na BR-163, no Pará, quando as chuvas transformaram a rodovia num lamaçal, o que inviabilizou o tráfego na região, causando transtornos e prejuízos.
Em entrevista à
Agência CNT de Notícias, o coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da FDC (Fundação Dom Cabral), Paulo Resende, destaca que as deficiências já representam um entrave, pois elevam o custo do transporte e impactam a cadeia de suprimentos, do produtor ao consumidor final. (Leia a íntegra da entrevista:
“Brasil rasga dinheiro”, diz especialista sobre ineficiência da infraestrutura de transporte)
Um dos principais problemas é a insuficiente malha ferroviária, fator que já foi apontado pelo estudo da CNT Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho. Segundo o levantamento, a pouca disponibilidade de ferrovias é considerada problema grave ou muito grave por 83,3% dos embarcadores. O Brasil tem 3,4 quilômetros de infraestrutura ferroviária para cada 1.000 km2 de área. Os Estados Unidos, principal concorrente do Brasil, têm 22,9 quilômetros, e a Argentina, que também disputa mercados com o país, tem 13,3 quilômetros.
Há, também, as más condições das rodovias, que deixam o transporte somente da soja e do milho R$ 3,8 bilhões mais caro, conforme o mesmo levantamento da Confederação.
De acordo com Paulo Resende, a falta de planejamento de longo prazo aliada à expansão da produção agrícola deve deixar o problema cada vez mais em evidência, impactando diretamente a economia nacional. Estimativas do Ministério da Agricultura, em 10 anos, a safra de grãos no país deve crescer 30%. Quanto maiores os custos logísticos para levar os produtos aos compradores, menor o lucro e menor a competividade do produto brasileiro.
Além disso, existe o risco do não cumprimento de contratos. “Se você não chega com a soja no porto para embarcar o navio, o cliente simplesmente desvia o navio e manda pegar soja em outro lugar, e nós morremos com o produto na mão”, complementa o professor da FDC.
Veja o que diz o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil:
Que medidas já foram ou estão sendo tomadas para prevenir e evitar que os embarcadores enfrentem dificuldades, como as já vivenciadas na BR-163 neste ano? O Ministério já identificou o que pode representar entraves e adotou ações para evitar novos problemas?
A BR-163/PA, no trecho da divisa Mato Grosso/Pará até Santarém (PA), tem extensão de 1.005 quilômetros com segmentos pavimentados e outros em obras. A maior concentração de tráfego ao longo da BR-163/PA encontra-se no trecho da divisa entre Mato Grosso e Pará até o distrito de Miritituba (PA). A situação vivenciada pelos usuários da BR-163/PA, devido a pontos de atoleiros, principalmente, nos quilômetros 546, 560, 561 e 564, ocorreu em trecho que se encontra em obra de pavimentação.
Após o término do período chuvoso na região, entre o fim de maio e meados de junho, haverá a retomada das obras de pavimentação no trecho. Há a previsão de execução de 25 quilômetros para este ano. Além disso, foram adotadas medidas para melhorar a trafegabilidade nos pontos de atolamento, por meio da colocação de pedras e cascalho, além do disciplinamento do tráfego.
Tais medidas estão sendo monitoras pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), de maneira a minimizar os riscos de novas restrições ao tráfego.
As distâncias de cada trecho, bem como a extensão a pavimentar, é a seguinte: