Chris standing up holding his daughter Elva
?Viajar de avião é sempre uma situação que deixa a designer de interiores Maria Fernanda Seixas no limite do desconforto. O simples ato de entrar em uma aeronave faz com que a passageira fique insegura não somente pelo fato de saber que não tem controle algum em situações imprevistas mas também porque esses episódios, por si só, podem despertar sensações ruins. “Eu já passei por momentos extremamente difíceis viajando, como turbulências fortes, em que o bagageiro abriu e machucou pessoas, e as bandejas de comida servidas pelos comissários caíram no chão. Foi um exercício árduo para conseguir conter o pânico ”, lembra. 

O medo gerado pela turbulência é apenas um tipo de sensação de desconforto causado em passageiros que viajam de avião. Várias outras podem ocorrer durante um voo, como falta de ar; ouvidos tampados; cansaço; ressecamento da pele, do nariz e da boca. Todas possuem explicações fisiológicas e podem ser minimizadas por meio de simples medidas de prevenção adotadas pelos próprios passageiros. Além disso, as companhias aéreas vêm investindo cada vez mais em tecnologias para mitigar esses impactos negativos. 

Basicamente, as sensações ocorrem porque, em altitudes próximas a 15 mil metros – que são as sobrevoadas pelas aeronaves –, a pressão atmosférica exterior é próxima a zero, ou seja, o volume de moléculas de oxigênio é praticamente inexistente. Essas restrições inviabilizariam a respiração humana dentro do avião se não fosse um mecanismo chamado de pressurização, que nada mais é do que um sistema de injeção de ar dentro da cabine. “Essa técnica permite que as pessoas consigam respirar, mesmo que em condições anormais, e faz com que a sensação da altitude caia para algo em torno de 2.600 metros, a mesma percebida em Machu Picchu, no Peru, por exemplo. Ainda assim, isso impõe limites aos passageiros”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial, Marco Cantero. 

Segundo o médico, a falta de ar ocorre porque, como a quantidade de oxigênio é menor em altitudes elevadas, em vez de o passageiro inspirar 12 vezes por minuto dentro do avião – respiração em condições normais –, ele precisa inspirar 14 vezes por minuto, ou seja, tem que fazer mais esforço para obter o oxigênio necessário. Mesmo com essa peculiaridade, Cantero observa que as pessoas costumam resistir bem a esse tipo de situação. A exceção se dá para quem tem algum tipo de doença pulmonar, como enfisema. 

Nesses casos, o passageiro deve comunicar a situação à empresa no ato da compra do bilhete por meio de um formulário chamado Medif (Formulário de Informações Médicas, na sigla em inglês). Trata-se de um documento com orientações médicas sobre a situação do paciente. “Em casos severos, nós não autorizamos o voo. Mas, se a pessoa for asmática, por exemplo, sugerimos o uso da ‘bombinha’ ou até mesmo do oxigênio a bordo. As companhias devem ser informadas desses casos particulares para trabalharem de forma preventiva”, adverte o médico. Ele lembra que as aeronaves seguem protocolos internacionais e são munidas de bombas de oxigênio à parte, além de maleta de primeiros socorros com remédios, inclusive, de ambiente hospitalar.

Cientes da ocorrência de casos excepcionais, as empresas vêm pensando em diversas soluções tecnológicas para reduzir esses desconfortos aos passageiros. O piloto e diretor-executivo para a América Central e do Sul da Embry-Riddle Aeronautical University, Fábio Campos, cita aeronaves mais modernas, como o Boeing 787 e o Airbus 350, cujas estruturas são feitas basicamente de fibra de carbono. Nesses aviões, os sistemas de pressurização conseguem oferecer aos passageiros a sensação de altitude de cerca de 1.800 metros. “Pode parecer pouca diferença em relação a uma aeronave comum, mas o corpo humano reage melhor. O resultado é que o passageiro conclui o voo bem menos cansado”, explica.

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Além da falta de ar, outra sensação bastante comum sofrida pelos passageiros é a de ouvidos tampados. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial explica que ela ocorre porque a baixa pressão faz com que os gases se expandam no organismo, por isso acontecem as dores de ouvido ou até mesmo as cólicas intestinais. “A recomendação, nesse caso, é que, durante o procedimento de descida, o passageiro tampe o nariz com a mão, feche a boca e engula saliva. O procedimento deve ser repetido durante seis vezes. A tendência é que a pressão do ambiente seja equalizada com a de dentro do ouvido. Outra técnica eficiente é o uso de chicletes.”

Já o ressecamento de pele, nariz e boca ocorre devido ao sistema de ar-condicionado. De acordo com o médico, para equiparar a diferença de temperatura dentro e fora da aeronave – enquanto a temperatura exterior é de -60°C, a interior é de 20°C –, o equipamento retira moléculas de água do ar, o que faz com que a umidade chegue a cerca de 10% no interior dos aviões. “Todos os passageiros devem tomar, pelo menos, um litro de água antes de entrar na aeronave. E durante a viagem, devem consumir cerca de um copo de água por hora para ficarem hidratados”, orienta. 

Turbulência e sono

Um dos vilões para os passageiros, a turbulência não provoca alterações fisiológicas, mas, sim, reações emocionais. Segundo o médico, o avião é seguro e está preparado para o incidente, podendo cair cerca de dois metros, o que não é suficiente para desnivelar a pressão no interior do corpo humano. “A tontura, o vômito ou até mesmo a queda de pressão ocorrem pelo medo que o viajante sente”, explica. Ele ressalta a importância de manter o cinto de segurança afivelado durante todo o voo para que a pessoa se mantenha presa à cadeira e não se machuque.  

Fábio Campos, da Embry-Riddle, ressalta que as aeronaves possuem radares meteorológicos capazes de medir a concentração de partículas de água nas redondezas. Em caso de nuvens pesadas, os pilotos são treinados para desviarem a rota. “A turbulência ocorre justamente quando não conseguimos desviar de todas as nuvens carregadas. Mas as evitamos ao máximo”, explica. Ele diz que a única formação que não é prevista pelo comandante é um fenômeno chamado de turbulência de céu claro, que ocorre quando existem fortes correntes de ar sem nuvens associadas a elas. “Isso ocorre quando a atmosfera está rarefeita. Não tem como prever com tecnologia”, diz. 

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Outro fenômeno bastante conhecido dos viajantes, sobretudo daqueles habituados a voos internacionais, é o jet lag, sensação de fadiga e cansaço causada pela mudança de fusos horários. Segundo Marco Cantero, a recomendação é que os passageiros se adaptem ao fuso do país de chegada. Na prática, eles devem buscar dormir no horário padrão do local em que se encontram. Isso faz com que o desconforto seja amenizado ao longo dos dias. 


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