Chris standing up holding his daughter Elva
O movimento dos caminhoneiros autônomos, que paralisou o Brasil por 11 dias, deixou lições que devem ser compreendidas pelo governo, pelas instituições de representação social, pelas empresas e por toda a sociedade.

O que mais pesou na decisão dos transportadores autônomos foram a absurda política da Petrobras para o diesel e os prejuízos causados pelas más condições das rodovias brasileiras. A surpresa ficou por conta da mobilização em rede que caracterizou o protesto e impôs mudanças no padrão de negociação com o governo. Esses são os dois pesos e a nova medida que precisam ser entendidos para que o momento de crise seja superado e possamos avançar.

Sufocados por custos operacionais cada vez mais altos, caminhoneiros autônomos de todo o Brasil, conectados pelas redes sociais, debateram seus problemas e se organizaram com grande rapidez e eficiência. No auge da paralisação, havia mais de mil pontos de mobilização geridos por milhares de líderes se comunicando pelo WhatsApp.

Tanto o governo, quanto entidades tradicionais de representação dos autônomos, tiveram dificuldade de entender esse movimento fluido, sem liderança centralizada e sem uma pauta unificada. Houve momentos em que o decidido nos gabinetes de Brasília se dissolvia instantaneamente nos debates via WhatsApp. De posse das tecnologias digitais, a sociedade está criando um jeito novo de enfrentar antigos e conhecidos problemas.

O preço do óleo diesel, por exemplo, é um velho entrave que pesa entre 30% e 40% no custo do transportador autônomo. Esse antigo problema tornou-se insustentável quando a Petrobras dolarizou o preço do diesel mesmo tendo todos os seus custos em reais.

Nada mais inaceitável do que uma estatal detentora de monopólio ditando política de preços. A demissão de Pedro Parente foi um reconhecimento do erro, porém a Petrobras ainda precisa fazer correções em sua estratégia de garantir altos dividendos aos seus acionistas. O lucro é mais do que legítimo, porém não pode ser às custas do sacrifício de toda a nação.

O diesel dolarizado, com reajustes quase diários, causa graves prejuízos: afeta o custo do frete, os preços dos alimentos, de insumos para a indústria e o agronegócio, as exportações e todos os outros setores da economia.

Se a Petrobras não revisar essa política destrutiva, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deverá exercer seu papel regulador, atuando em defesa dos consumidores, como previsto na Lei do Petróleo.

Outro velho problema que pesa sobre os caminhoneiros autônomos é a falta de investimentos em infraestrutura. O transporte rodoviário responde por 61% da movimentação de mercadorias e por mais de 90% do tráfego de passageiros, enquanto a infraestrutura acumula um atraso de mais de 40 anos.

No Brasil, até hoje, apenas 12,3% de 1,7 milhão de quilômetros de rodovias são pavimentados e, desses, 61,8% apresentam algum tipo de deficiência. A má qualidade das rodovias pesa muito, cerca de 27% no custo operacional do transporte.

Considerando apenas o orçamento federal, constatamos queda de investimentos ano a ano. Em 2014, o setor recebeu R$ 15,8 bilhões — o maior desembolso em 12 anos. Em 2017, foram R$ 11,1 bilhões, e este ano não passará de R$ 10,8 bilhões.

Para evitar novas e maiores crises é preciso ter sensibilidade para os problemas do país e realizar fortes investimentos em infraestrutura de transporte. Se nada mudar, continuaremos com infraestrutura do século 20 e comunicação do século 21. A resposta da sociedade será cada vez mais contundente.

Clésio Andrade 
Presidente da Confederação Nacional do Transporte 
CNT - Confederação Nacional do Transporte

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