Chris standing up holding his daughter Elva
Quando o assunto é economia, Ricardo Amorim é um dos nomes de referência no mercado nacional e internacional. Formado pela USP (Universidade de São Paulo), o economista tem pós-graduação em Administração e Finanças e atua no mercado financeiro desde 1992. 

Além de ter trabalhado em Nova Iorque, Paris e São Paulo, sempre como estrategista de investimentos, Amorim é o único brasileiro incluído na lista dos melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner – tradicional ambiente de discursos, em Londres. Há anos, profere palestras em eventos fechados de empresas de destaque, congressos, feiras de negócios e universidades, como Harvard e Columbia.

Presidente da Ricam Consultoria, prestadora de serviços na área de negócios e de economia global, Amorim é um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da GloboNews, desde 2003. É também colunista na revista IstoÉ. Ele foi o entrevistado de junho revista CNT Transporte Atual. Leia, a seguir, alguns trechos:
 

O PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre ficou em 0,4%. Isso é um sinal de que a economia vem demonstrando retomada do crescimento, ainda que em marcha lenta?

O crescimento do PIB do primeiro trimestre foi o quinto consecutivo do Brasil, ou seja, a economia vem mostrando uma retomada. Em abril, tivemos crescimento da indústria de quase 9%, o maior em cinco anos. As vendas de automóveis tiveram crescimento de mais de 20%. As vendas de imóveis cresceram mais de 100% em relação ao ano anterior. Só que em maio houve a greve dos caminhoneiros e os indicadores mais recentes mostram que a economia deu uma bela desacelerada. 

A expectativa era de um crescimento maior?

 Sim. Todos os meses desse ano houve criação de emprego formal, mas em maio, o índice foi o mais baixo. As vendas de automóveis caíram 7% e os indicadores da indústria de alimentos vão ser piores ainda. Então, o que a gente vê de preocupante é que a economia não só vinha crescendo, mas se acelerando, e isso ficou para trás. O crescimento neste ano, que era para ser maior do que as pessoas esperavam no final do ano passado, quando os economistas projetavam um crescimento de 2% - há um mês essa projeção já estava em 3% - talvez surpreenda negativamente. 

Como as empresas de todos os setores produtivos devem aproveitar as oportunidades da recuperação e prosperar?

As pessoas costumam dizer que crises trazem oportunidades. Eu discordo. As crises não trazem oportunidades, elas trazem problemas. O que pode criar oportunidade é o que as pessoas e as empresas fazem. Elas têm que criar as próprias oportunidades. Isso significa que quem tiver melhor posicionado na recuperação vai prosperar. Mas só vai prosperar quem melhorar o seu produto, o seu serviço, o seu atendimento, sua situação financeira, quem inovar. Quem for capaz de se fortalecer apesar de crise, vai prosperar. Quem não for, vai ter dificuldades. Isso funciona igual a uma pessoa que comia mais do que devia, bebia mais do que devia, fumava, não fazia exercício físico, e tem uma crise cardíaca. Se ela não mudar os hábitos, ela provavelmente vai ter problemas no futuro ou provavelmente vai morrer. Se ela mudar, ela tem a possibilidade de ter uma vida futura melhor, mas é ela que tem que fazer isso acontecer. 

O cenário eleitoral pode prejudicar ainda mais o crescimento econômico nos próximos anos? 

A economia vai depender demais do resultado das eleições. Na minha opinião, o cenário mais provável era, e continua sendo, a vitória de um candidato de centro-direita. Isso porque é muito possível que haja uma coligação entre partidos de centro-direita e isso vem do fato de que os potenciais candidatos do MDB, o Henrique Meirelles, e do DEM, o Rodrigo Maia, não emplacaram até agora. É provável que haja um movimento dentro dos partidos para que eles façam coligações. Se eles lançam candidatos próprios, uma grande parte do tempo de televisão e do dinheiro de financiamento de campanha acaba indo para o candidato a presidente. Só que os candidatos não são puxadores de voto. Eu desconfio que candidatos a governadores, deputados e senadores vão preferir ficar com esse dinheiro para as suas campanhas e fazer coligações, o que, para mim, quer dizer que haja uma coligação de centro-direita, com um candidato mais forte e com uma chance bem maior do que as pesquisas mostram antes de ganhar. Ainda não é muito claro quem será esse candidato. 

Os candidatos de extrema direita ou extrema esquerda podem ganhar força nesse cenário de desaceleração momentânea? 

Existe essa probabilidade porque a desaceleração da economia ajuda candidatos de retórica mais inflamada. E essa desaceleração, pelo menos por ora, ainda pode aumentar porque as incertezas eleitorais levam o dólar a subir. Por consequência, os juros que caíam param de cair e podem até vir a subir. E isso significa menos crédito, menos consumo, menos investimento e menos crescimento econômico. Tudo isso favorece candidaturas tanto de esquerda quanto de direita. Portanto, ainda que eu ache que a gente vai ter provavelmente a vitória de alguém que vá manter políticas econômicas não substancialmente diferentes das atuais, que foram as que levaram o PIB a crescer nos últimos trimestres, e que deveriam levar a economia a crescer mais do que as pessoas têm projetado nos próximos anos, o risco de que isso não aconteça com a eleição de alguém mais populista vem crescendo inegavelmente. Isso sempre acontece em processos de retomada depois de crises graves. Essa que o Brasil teve nos últimos anos foi a mais grave de toda a história do país. 




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