Chris standing up holding his daughter Elva
?O acordo firmado na sede da IMO (Organização Marítima Internacional), em abril, abre novas perspectivas para um futuro mais limpo. Os mais de 170 países-membros da organização assinaram o documento que prevê a redução de 50% das emissões de poluentes do setor marítimo até 2050 em relação aos níveis de 2008. O transporte marítimo internacional, atualmente, é responsável por 2% de toda a emissão de gases causadores do efeito estufa no mundo. Se colocada em prática, a medida permitirá que, em pouco mais de dez anos, os navios que atuam no transporte marítimo de cargas e de passageiros sejam movidos por combustíveis alternativos ou por outras formas de propulsão.

Embora seja necessária e esteja alinhada com o compromisso que o Brasil assinou no Acordo de Paris para a redução dos poluentes, a medida pode elevar os custos do frete marítimo, alertam representantes do setor. Uma das justificativas é a localização geográfica do país, bastante distante dos mercados consumidores das commodities nacionais. Além disso, outros fatores colocam o setor em alerta. “Caso as medidas sejam estendidas para além das viagens internacionais e alcancem a cabotagem, os prejuízos para a navegação brasileira poderão ser enormes, uma vez que o aumento do frete poderá colocar a concorrência entre o transporte marítimo de cabotagem e o transporte rodoviário em uma posição muito desfavorável para os navios frente aos caminhões”, afirma o vice-presidente executivo do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima), Luís Fernando Resano.

De acordo com o diretor de assuntos institucionais da Hamburg Sud e da Aliança, empresas especializadas em transporte de longo curso, Mark Juzwiak, os custos do setor ainda devem ser avaliados dependendo da disponibilidade do combustível de baixo enxofre e seu custo nas várias partes do mundo, incluindo o Brasil. Hoje, segundo ele, a Petrobras não disponibiliza esse combustível, e uma das alternativas seria a mistura com o diesel para diluir a quantidade de enxofre. “Mas isso elevaria bastante o custo. A  maioria dos armadores dependerá da compra de combustível que se adeque às novas regras. Considerando os altos custos do programa até 2020, somente uma ação forte e coordenada na implementação das regras pode garantir a competitividade no mesmo nível”, ressalta ele.   

Na visão do especialista em negociações climáticas internacionais da WWF-Brasil, Mark Lutes, a busca por menos emissões pode fazer com que o país seja beneficiado pela oportunidade de gerar uma maior eficiência nas formas de propulsão das embarcações. “As metas estabelecidas podem servir de incentivo para o Brasil produzir combustíveis alternativos, mas, para isso, é preciso haver uma transformação em todos os setores. Os navios fabricados a partir de agora serão mais eficientes já pensando em um futuro não muito distante, quando teremos que substituir os combustíveis fósseis por novas formas de combustíveis, como os biocombustíveis, hidrogênio e nitrogênio.”?

Procurada pela reportagem para comentar sobre o fornecimento de combustíveis menos poluentes para o setor marítimo, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), por meio de nota, destacou que “em tratativas com a Marinha do Brasil, a Petrobras se propôs a ofertar, na data fixada pela IMO, as necessidades de sua própria frota envolvida no comércio internacional de petróleo e derivados, bem como as dos navios de bandeira brasileira ou estrangeira que demandarem combustível nos portos brasileiros”. 

Além de membro da IMO, o Brasil é signatário da Convenção Marpol (Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios), o que reforça a atuação na busca de alternativas para reduzir a poluição causada pelo transporte marítimo.







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