Chris standing up holding his daughter Elva
“Eco195 chamando torre e pedindo permissão para pousar.” 
“Eco195, permissão para pouso autorizada.” 

Quando o operador de voo da torre de controle do Aeroporto Internacional de Brasília (DF) concedeu a permissão para o voo pousar, encerrou-se mais uma viagem bem-sucedida, com céu azul e em condições perfeitas para pousos e decolagens. Mas nem sempre o cenário é assim tão propício. O céu poderia estar nublado, e o controlador do voo poderia não enxergar o avião. O piloto também poderia não ver a pista. É nesse momento que os instrumentos de precisão, presentes nos aviões e nos aeroportos, viram os protagonistas do sistema aéreo brasileiro. 

Mas o que realmente significa operar por instrumentos? Na aviação, existem dois tipos de voo: o VFR (Visual Flight Rules) ou voo visual, que geralmente acontece a cerca de 3.000 metros de altitude e que permite ao piloto se orientar por estradas, lagos, praias, litoral, colinas, plantações, cidades etc.; e o IFR (Instrument Flight Rules), ou voo por instrumentos, no qual o piloto é orientado pelos computadores de bordo do avião que estão em contato direto com receptores e emissores de sinais no solo ou via satélite.

De acordo com o consultor técnico da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Raul Souza, os dois sistemas são igualmente seguros. “A diferença é que o equipamento de precisão leva o avião para mais perto da pista e é utilizado, principalmente, quando a visibilidade é menor.” 

Para que um avião pouse com auxílio de instrumentos, é necessário seguir um documento aeronáutico emitido pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), órgão nacional responsável pelos céus brasileiros. “Quando está nublado, o piloto irá sempre seguir a recomendação da carta de voo e realizar todas as ações previstas nela até chegar à altitude de pousar”, explica o major da Aeronáutica responsável pela torre de controle do Aeroporto de Brasília, Eduardo Stutz. Ele conta que as aeronaves que operam por instrumentos têm sempre prioridade no pouso. “Isso é importante, porque, nesse momento, o piloto não está olhando para fora do avião. A aeronave em voo visual deve aguardar uma brecha entre os pousos por instrumentos até que o controlador da torre dê autorização para realizar o pouso visual.”

CGNA Rio de Janeiro Ascom Decea.jpg

Os instrumentos de precisão estão presentes também nos aeroportos, mas nem todos têm a necessidade de utilizá-los, já que isso depende da localização e das condições climáticas que influenciam a visibilidade. Segundo Souza, consultor técnico da Abear, existe uma necessidade real em aeroportos, como Guarulhos (SP), Congonhas (SP) e Porto Alegre (RS), por haver sempre a possibilidade de fechamento por neblina. Esses terminais possuem o chamado sistema ILS (Instrument Landing System), que, em momentos de baixa visibilidade, permite ao piloto voar precisamente até a pista, mesmo que só consiga enxergá-la nos momentos finais antes de tocar o solo. O sistema funciona a partir de duas antenas instaladas próximas à cabeceira da pista do aeroporto que municiam as aeronaves com orientações verticais e horizontais. O ILS possui três categorias, que variam de acordo com a proximidade da pista e as condições de visibilidade (veja arte).

No Brasil, os principais aeroportos possuem o sistema. A exceção é o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, que, por conta da topografia da região onde está localizado, a aproximação por ILS não é segura. Quando o terminal fica encoberto pela neblina ou em períodos de chuva intensa, o sistema utilizado é o RNAV (navegação por área), que faz com que o avião voe por uma rota com pontos de passagem estabelecidos de acordo com o plano de voo, com o apoio de sistemas de navegação por satélite embarcados nas aeronaves.  

O diretor-executivo para a América Central e do Sul da Embry-Riddle Aeronautical University, universidade especializada em aviação, Fábio Campos, destaca que a qualidade do voo por instrumentos depende do equipamento que a aeronave possui e dos equipamentos que estão no solo. “O avião, durante o voo, processa os dados que são enviados pela torre de controle que assessora a aeronave com informações do solo. O aeroporto possui um transmissor que emite elementos para a aeronave. No avião, isso chega ao piloto por meio do sistema do avião. Inclusive, quando o avião está no piloto automático, ele recebe informações do solo emitidas por esses sinais. Ele traz o avião para descer até o local de toque da pista. É o sistema mais preciso que existe hoje para pouso, mesmo em condições ruins de pista.”

Campos lembra ainda que hoje a navegação aérea também é baseada em GPS e, em alguns países, como os EUA, já existem aeroportos que operam com esse sistema. “As aproximações baseadas em GPS são tão precisas quanto o sistema ILS. Elas são feitas por uma antena que auxilia uma rede de satélite que abrange regiões que cobrem aeroportos que não têm a necessidade de utilizar o ILS”, finaliza. 

Segundo Souza, da Abear, o ILS possui um papel fundamental no pouso e, para que não haja imprevistos, existe sempre um backup a postos. “Existe sempre um procedimento alternativo que pode ser de não precisão. O sistema é aplicado no mundo inteiro e, além de ser preciso, a tripulação também é treinada. Para as empresas aéreas do Brasil ele atende perfeitamente às condições de segurança”, finaliza. 



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