Plane spotting: o prazer de ver e de fotografar aviões
Spotters, praticantes do hobby, formam uma grande comunidade de fascinados pela aviação
Por Agência CNT Transporte Atual
“Ô, lá em casa!”, gritou Gisele Almeida, olhando para a pista do aeroporto de Brasília (DF). O alvo do comentário era um tanto inusitado: um avião cargueiro que decolava em uma fria manhã de sábado. Por que tamanha admiração? “É porque esse é um cargueiro da Sideral, um dos diferentes do dia”, explicou entusiasmada, enquanto fotografava a aeronave, um Boeing 737-400F, da Sideral Air Cargo.
Gisele é spotter de aviões, praticante de um hobby chamado
plane spotting, que consiste em observar, fotografar e descobrir coisas sobre as aeronaves. Ela fez parte de um grupo de mais de 100 pessoas que, no dia 30 de junho, participaram do Spotter Day BSB.
O evento, organizado pela Inframerica, concessionária que administra o aeroporto de Brasília, proporcionou aos spotters a chance pouco usual de ficarem bem próximos à pista de pousos e decolagens. Uma vista privilegiada para quem costuma se embrenhar em qualquer canto que permita uma visão diferenciada nas imediações de aeroportos.
Foto: William Alves
Quem é spotter
O hobby reúne adeptos em diferentes partes do mundo. No Brasil, formam uma grande comunidade de fascinados pela aviação. Eles participam de fóruns na internet e de grupos em redes sociais, nos quais compartilham experiências, fotos e debatem preferências de modelos de aeronaves. Aliás, cuidado ao entrar na discussão: a polêmica pode ser grande. Para os spotters, uma disputa Boeing x Airbus envolve tanta paixão quanto, no futebol, um clássico ao estilo Gre-Nal ou Fla-Flu, por exemplo.
Eles monitoram o tráfego aéreo e a programação de chegadas e partidas nos aeroportos. A tecnologia, nesse caso, é uma grande aliada: em vez de ficarem à espera de aviões, conseguem saber, por meio de aplicativos de celular, o momento de melhor tráfego para irem aos terminais exercitar o que lhes dá tanto prazer. Um dos apps favoritos é o Flightradar24, que apresenta informações como altitude, velocidade, rota e até previsão do tempo. E vale tudo para conseguir observar e fazer um registro dos aviões. Quanto mais inustadas forem as caracterísitcas da aeronave, mais válido é o esforço.
Dessa comunidade fazem parte pessoas com diferentes perfis. Há quem pretende seguir carreira na aviação; há quem queria, mas não conseguiu trabalhar no setor; alguns são do ramo; e há, ainda, aqueles que atuam em atividades que nada têm a ver com aviões. Esse último é o caso de Gisele. Ela trabalha na área administrativa de uma escola em São Paulo. Praticante do hobby desde 1998, conta que, sempre que pode, vai para o aeroporto ou viaja pelo Brasil para fazer fotos de aviões. “Quem é contaminado pelo ‘aerococcus’, não tem cura”, brinca, em alusão ao gênero
coccus, um tipo de bactéria.
Estudante de engenharia aeroespacial na UnB (Universidade de Brasília), Felipe Caixeta é do grupo de spotters que quer, um dia, seguir carreira na aviação. Até lá, o
plane spotting é uma forma de ele se manter em contato com o que tanto admira. “Geralmente combinamos de vir para o aeroporto em grupos. Tiramos fotos, conversamos, trocamos experiências. Buscamos aeronaves com pinturas diferentes, de companhias diferentes. A gente tem uma ligação muito forte com cada uma delas. Nenhuma é igual, todas são diferentes.” As fotos dele e de outros spotters de Brasília estão disponíveis em páginas no Facebook (facebook.com/bsbspotter) e no Instagram (instagram.com/bsbspotter)
Foto: Felipe Caixeta
A afinidade é importante, já que não é todo mundo que compreende o que leva uma pessoa a passar horas e horas no aeroporto vendo aviões que vêm e vão. “Os de fora acham que eu sou doida. Perguntam se eu não tenho mais o que fazer da vida além de correr atrás de avião”, conta a carioca
Camila Couto, de 29 anos. Ela, então, faz piada com tudo isso. As tiradas cômicas são publicadas em uma página chamada Spotter da Depressão, que mantém no Facebook e no Instagram, “para mostrar esse nosso mundo maluco”.
O hobby também é uma forma de se manter próximo de um sonho. É o caso do analista de redes Henrique Matte, de 49 anos. Seu desejo de juventude era ser piloto da FAB (Força Aérea Brasileira), mas foi reprovado no exame de visão. O fascínio pelos aviões, particularmente pelos militares, encontrou lugar no
plane spotting, que pratica desde 2005. “A fotografia foi a maneira que eu encontrei de estar mais perto dos aviões. Som de turbina é música, e cheiro do querosene é perfume”, diz. Matte publica as fotos em seu site
hsmattefotos.com.br.
Foto: Henrique Matte
Johnson Barros, sargento da FAB, tornou-se spotter há cerca de duas décadas. “Eu vinha para a cabeceira do aeroporto e ficava treinando, fazendo fotos de aviões indo e vindo.” Autodidata, praticou, aperfeiçoou a técnica e a linguagem e, com isso, fez da fotografia de aviação sua especialidade, trabalho desempenhado na carreira militar e na vida civil. No âmbito da Aeronáutica, conta que um de seus objetivos é utilizar as imagens que captura para estimular, em jovens, o interesse pela Força Aérea. Talvez, também, o sonho de fazer parte dela. Com o olhar acurado, a técnica exercitada e esse objetivo em mente, faz imagens da frota aérea militar brasileira que são de encher os olhos. Aí, fica até mais fácil entender todo o fascínio que movimenta os amantes da aviação. Clique aqui e conheça mais o trabalho de Johnson Barros.
Johnson Barros, sargento da FAB, fez da fotografia de aviação sua especialidade
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?A reportagem completa sobre o hobby será publicada na próxima edição da revista CNT Transporte Atual. Aguarde!
Todas as imagens utilizadas nesta matéria foram cedidas por spotters entrevistados pela reportagem. Veja outros registros: