?Oficialmente batizado como viaduto Vila Rica, mas conhecido como viaduto das Almas, o elevado localizado na BR-040, em Itabirito (MG), faz jus ao apelido. Inaugurado em 1957, foi desativado em 2010 após sucessivas tragédias. Estreito, erguido em curva, sem acostamento e sem divisão das pistas de sentidos contrários, levou mais de 200 pessoas à morte. O acidente mais grave ocorreu em agosto de 1969, quando um ônibus não conseguiu atravessá-lo. Trinta pessoas morreram. Dois anos antes, em setembro de 1967, outro coletivo despencou de lá, e este foi o resultado: 14 vítimas.
No Pará, outro acidente emblemático. Em 2014, uma balsa que transportava óleo colidiu com um dos pilares de sustentação da ponte que cruzava o rio Moju, na rodovia PA-483, que possuía 900 metros de extensão e ligava Belém à região do Baixo Amazonas e ao sul do Estado. Após o acidente, um trecho de 50 metros despencou, interrompendo a passagem de veículos por mais de dois anos. Ninguém ficou ferido, mas a situação gerou crise econômica no município devido à diminuição do volume de carros na cidade.
Ponte sobre o rio Moju, na PA-483
Esses dois casos são exemplos que retratam a real situação de grande parte das pontes e dos viadutos no Brasil, chamados oficialmente de obras de arte. De acordo com a
21ª Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada no começo de novembro pela Confederação Nacional do Transporte, das 10.447 pontes ou viadutos pesquisados em todo o país, 58,6% não possuem acostamentos ou defensas e 7,6% não possuem nenhum dos dois mecanismos de segurança. Além disso, 1.429 estão localizados em cidades, por onde as rodovias avaliadas transitam em áreas comerciais ou residenciais. Dessas, 79,8% não possuem passagem de pedestre, dificultando a mobilidade local.
Os pesquisadores localizaram cinco pontes caídas, em trechos considerados críticos, nos municípios de Chaval (ES), Nova Venécia (ES), Alcântara (MA), Batalha (PI) e São Desidério (BA). De acordo com o estudo, 94,9% das obras de arte avaliadas são construídas em concreto e 56,6% possuem dimensão entre 10 e 50 metros de comprimento. As pontes são projetadas e construídas para sobrepor barreiras físicas, tais como cursos d’água. Já os viadutos sobrepõem outras vias ou desníveis topográficos.
A pesquisa da Confederação também revelou que os investimentos para manutenção e adequação das obras de arte, assim como para a construção de novas pontes e viadutos, caíram substancialmente entre 2016 e 2017. Enquanto naquele ano, foram investidos R$ 6,77 milhões para manutenção e adequação, até novembro do ano passado, foram somente R$ 330 mil. O valor também caiu sensivelmente na construção: R$ 304,13 milhões, em 2016, contra R$ 33,44 milhões, em 2017.
“Os números demonstram baixa prioridade do governo em relação a esse tipo de construção. Isso representa perdas para a infraestrutura brasileira e acaba contribuindo para o aumento do Custo Brasil e gerando grandes riscos de acidentes nas rodovias”, alerta o diretor executivo da CNT, Bruno Batista. Segundo dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal), entre janeiro e outubro do ano passado, foram registrados 841 acidentes em pontes e viadutos de todo o país.
De acordo com o órgão, “um dos agravantes relacionados aos acidentes em pontes e viadutos é o fato de que, nessas obras de arte, normalmente não há área de escape. Tal característica, somada à velocidade incompatível ou à falta de atenção, amplia o risco de queda e, consequentemente, de lesões graves ou mortes”. A PRF informou ainda que trabalha em dois pilares para coibir acidentes nesses pontos específicos: educação para o trânsito realizada em todas as Unidades da Federação – tanto junto aos motoristas quanto em escolas, empresas e comunidade – e fiscalização ostensiva com base em pontos críticos de ocorrências de acidentes de trânsito, com vistas a coibir comportamentos perigosos.
Leia, aqui, análises de especialistas sobre os motivos que levam à falta de investimentos em pontes e viadutos no Brasil.