Chris standing up holding his daughter Elva

A guerra comercial entre os EUA e a China tensionou a economia mundial ao longo de 2019. Embora as potências tenham firmado uma trégua provisória, as diferenças não foram superadas. A análise é do economista Luís Suzigan, responsável pelo acompanhamento de economia internacional e mercado financeiro na LCA Consultores. Em palestra na CNT (Confederação Nacional do Transporte), o especialista ponderou que o recrudescimento da disputa afetará negativamente os países da América Latina, tradicionais exportadores de commodities. “Se a polarização se acirrar, provavelmente, o Brasil se alinhará ao aliado histórico, ou seja, os EUA”, acrescenta. Mas é com a China que o país tem maior volume de exportações.

Esse tipo de reflexão geopolítica ajuda a prever certos obstáculos no horizonte, acredita Suzigan. “Com o mundo pegando fogo, é difícil imaginar alguém querendo investir pesado aqui”, alerta. Também preocupa a situação da Argentina, cuja crise impactou diretamente o escoamento da nossa produção industrial, sobretudo, a automobilística. “Felizmente, o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, sinalizou que tentará um acordo com o FMI. Acreditamos que os argentinos terão algum crescimento em 2020, ainda que mínimo”, tranquiliza.

Se o cenário internacional é volátil, no plano doméstico, a sensação é de alívio. “Veremos a economia ganhar tração”, afirma o economista. Projeta-se um crescimento moderado do PIB, porém, superior a 2%. O nível historicamente baixo da taxa básica de juros e a inflação controlada são indícios de saúde macroeconômica. “A política monetária vai seguir expansionista em um contexto de inflação muito baixa. Percebam que, tirando aquilo de mais volátil, que são os alimentos, a inflação de serviços está abaixo de 2%, quando costumava ser de 10% nas viradas de ano. Isso é reflexo de uma ociosidade de produção na economia”, analisa. Há espaço para avançar.

Confirmando essa percepção, a concessão de crédito ganha velocidade. “Além disso, a construção civil passa por uma retomada, após 5 anos de estagnação. Esses são sinais alvissareiros, são fatores que vão dinamizar a economia”, enfatiza Suzigan. Diante dos sinais positivos, onde podem estar as armadilhas? Segundo o economista, dois índices precisam ser acompanhados com cautela: o aumento do endividamento e o aumento da inadimplência. “Outro fator, mais estrutural, que pode dificultar o ímpeto de consumo é a precarização do trabalho. Temos um quadro de muita informalidade e isso não vai se reverter tão cedo”, observa.

Suzigan não vê muita margem para uma valorização do real frente ao dólar, confirmando a previsão do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Percebemos essa diferença mais como uma adequação. A tendência é que a relação entre as moedas vá melhorar um pouco a nosso favor ao longo do ano, com o dólar recuando um pouco abaixo de R$ 4”, prevê. Outro ponto a ser observado: o “empurrão” dado pelo desbloqueio do saque do FGTS. “O impulso vai refluir no quarto semestre de 2020. Daí em diante, a economia terá de andar por conta própria”, avisa. 

Por fim, o analista da LCA adverte que a agenda de reformas não pode parar. “A discussão da reforma tributária deveria ser um divisor de águas da economia brasileira, com a criação de um ambiente de negócios muito melhor”, opina. Na avaliação do economista, a reforma administrativa terá um encaminhamento mais lento, posto que é “muito impopular diante de uma parcela grande da população”. Para ele, o país também não pode mais adiar a discussão sobre o teto de gastos e o ajuste fiscal, com uma ampla revisão do pacto federativo e o enfrentamento das dívidas dos estados.

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