Rio - Atravessar ruas e avenidas da cidade virou arriscada corrida contra o tempo. Chegar são e salvo na calçada, do outro lado da via, é o troféu a ser conquistado pelos pedestres, ansiosos em fazer a travessia, sempre de olho no cronômetro do trânsito: o sinal luminoso. Tarefa nada fácil para idosos, deficientes e mamães com carrinho de bebê. O DIA cronometrou o tempo gasto em seis sinais na cidade.
    
No último semáforo da Rua Voluntários da Pátria, esquina com Praia de Botafogo, em Botafogo, por exemplo, quem anda a pé têm apenas 15 segundos para atingir o objetivo.
    
"Tenho medo de perder o equilíbrio e morrer atropelada. Depois de ter sobrevivido a um tumor no cérebro, seria muita ironia. Acho que eles deveriam aumentar o tempo para os pedestres", sugere Sonia Maciel, 60 anos, obrigada a usar bengala para se deslocar pelo bairro onde mora há 40 anos. A travessia de 10 metros e meio também é suplício diário para outra moradora, Maria Rosa Rodrigues, 86 anos: "Já perdi a conta de quantas vezes quase fui atropelada, porque o corpo não obedece como antes. O sinal é muito rápido, eu sempre me atrapalho".
    
Especialista em Engenharia de Transporte da Coppe/UFRJ, Fernando MacDowell disse que o tempo dos sinais não leva em consideração o envelhecimento da população. "As pessoas idosas precisam ser respeitadas, caso contrário o trânsito valoriza a máquina em detrimento do ser humano", analisa. Para o engenheiro, o uso de sinais inteligentes, que possuem sensores para calcular o tempo de viagem, é o primeiro passo para mudar o panorama caótico do trânsito.
    
O medo na travessia dos idosos em Botafogo também aflige mamães com carrinho de bebê. Na Praia do Flamengo, no Flamengo, as três pistas se tornaram desafio para a turismólogo Nilcéia Cunha, 36, e o filho Lucas, de sete meses. "Sou obrigada a dar aquela corridinha básica para chegar à calçada e, quando tem ônibus vindo, espero ele parar. Jamais arrisco", conta ela. Nilcéia têm 37 segundos para cruzar 25 metros. "O tempo só é suficiente para quem não está carregando peso ou empurrando carrinho de bebê", reclama.

Em frente à Estação São Cristóvão, na Av. Radial Oeste, o pedestre tem apenas 26 segundos para cobrir as três pistas. Ao contrário dos carros, que passam sem parar durante dois minutos e 55 segundos - sete vezes mais do que têm os pedestres -, o entregador Ademilson de Souza, 20, é obrigado a saltar da bicicleta para romper os 35 metros da via sem ser surpreendido. "Quando o trânsito engarrafa, a gente até vai, mas dá medo. Muitos motoristas avançam o sinal", conta.
CET-Rio diz que tempo será revisto
    
O medo dos idosos de Botafogo, que temem ser atropelados no sinal de trânsito, está perto do fim. A CET-Rio admitiu ontem que o tempo do semáforo será revisto na Rua Voluntários da Pátria, esquina com Praia de Botafogo, em Botafogo. A companhia explicou que existe uma programação semafórica de acordo com os horários de pico no trânsito. Segundo a CET-Rio, avenidas como a Praia do Flamengo, Presidente Vargas e Maracanã, devem ser atravessadas em dois tempos por causa da extensão das vias.
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