A CNT (Confederação Nacional do Transporte) apresentou, durante a Intermodal South America 2019, as perspectivas para o futuro da logística brasileira, sob os aspectos da economia, da infraestrutura e das inovações. O tema foi a pauta da palestra de abertura das conferências realizadas nesta quinta-feira (21), último dia do evento, que é a maior feira de logística, transporte de cargas e comércio exterior da América Latina, em São Paulo (SP).
Na apresentação, a coordenadora de Economia da CNT, Priscila Santiago, salientou que um sistema logístico eficiente e sustentável sob os aspectos financeiro, social e ambiental é requisito para amparar o crescimento da economia do Brasil. Entretanto, há diversos fatores que pressionam o setor.
O enfraquecimento da economia a partir de 2014 e a demora na recuperação estão entre eles. Esse contexto penaliza o mercado de transporte e logística duplamente: a queda na renda da população leva à redução no consumo, e, consequentemente, à diminuição na demanda pelo transporte de mercadorias; já a queda na arrecadação impacta, imediatamente, no congelamento de investimentos públicos na infraestrutura, o que eleva as despesas nos serviços de transporte.
"No ano passado, o governo federal investiu 0,16% do PIB (Produto Interno Bruto) em infraestrutura de transporte. O valor é muito baixo e é insuficiente para repor a depreciação dessas infraestruturas.?" O resultado disso são malhas que não atendem à demanda e em condições que elevam o custo do transporte. Para se ter uma ideia, o custo logístico consome 12% do PIB do Brasil, segundo dados do Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain). Nos Estados Unidos, por exemplo, o índice é de 8%. "Nós precisamos de mais investimentos para sanar essa deficiência. Para uma logística eficiente, isso é uma questão crucial."
Outro agravante é que, no cenário externo, os indicadores também não são favoráveis. "A velocidadde de crescimento da economia mundial está caindo, há incertezaas em relação à China e aos Estados Unidos, os preços internacionais estão mudando e a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do país, está em crise. Tudo isso pode afetar a economia brasileira e o mercado interno, resultando em impactos no nosso setor."?
O custo para solucionar as deficiências na infraestrutura de transporte e logística,
estimado pela CNT?, é de R$ 1,7 trilhão de reais, em todos os modais. Além de investimentos, a Confederação Nacional do Transporte destaca a necessidade de se aprimorar o planejamento e de uma visão sistêmica do transporte, com integração entre as diferentes modalidades.
Quanto às novas tecnologias e seus impactos nas operações logísticas do Brasil, Priscila Santiago pontuou que o aprimoramento da infraestrutura também é um desafio, somado a questões sociais e culturais do país. A partir de dados da mais recente pesquisa CNT/MDA, ela exemplificou que ainda há um temor com relação a veículos autônomos (74% dos entrevistados têm medo de andar em um carro que prescinde de motorista), uma resistência quanto ao uso de drones nas entregas (60,3% não gostariam de receber mercadorias por meio do equipamento) e até da adesão a formas mais modernas de consumo (45,6% conhecem sistemas de compras online, mas não utilizam). Apesar disso, o setor precisa se preparar para incorporar as transformações tecnológicas que se anunciam. Entre as medidas para isso estão a modernização da gestão e da capacitação dos profissionais.
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