Criado em 2008, o Waze atualmente tem mais de 65 milhões de usuários que se conectam à plataforma mensalmente. De início, a ideia era criar uma ferramenta que rodasse no celular e trouxesse informações sobre rotas para dizer quais caminhos são os mais eficientes. Dez anos depois, é possível dizer que o programa para smartphones mudou profundamente a maneira como nós encaramos o transporte individual.
Os israelenses responsáveis pelo app foram espertos ao perceberem, antes de todo mundo, que estava em curso uma importante transformação no ambiente digital: saía de cena o computador, enquanto o celular ganhava protagonismo mundial. Alguns motivos influenciaram o casamento perfeito entre o Waze e o smartphone: o dispositivo tem conexão constante com a internet e conta com um GPS que detecta a localização em tempo real.
O Waze apareceu numa época em que ainda eram vendidos os aparelhos de GPS – caixinhas que ficavam no painel ou vidro do veículo e custavam fortunas. Os usuários tinham acesso a informações sobre mapas, mas sem saberem, por exemplo, qual seria o trajeto mais rápido ou sem custos com pedágios.
Como em qualquer história de inovação, aqui está o pulo do gato: a colaboração. O Waze transformou cada usuário em um participante na agregação de informações sobre o trânsito nas cidades ou nas estradas. Ao usar o aplicativo, você concorda em dizer continuamente onde está, dado fundamental para que os computadores centrais realizem cálculos com mais precisão e ajudem a encontrar o melhor caminho. Com isso, o aplicativo de celular fez aparelhos de GPS comerem poeira.
Há uma série de mitos sobre a ferramenta. Por exemplo, ainda hoje há quem pense que o Waze usa satélites que ficam, lá do espaço, observando ao vivo as rodovias e avenidas. Na realidade, a combinação de latitude e longitude, informada pelo próprio celular, auxilia na montagem de um mapa vivo e sofisticado.
A inteligência artificial marca presença para aprender com os erros cometidos anteriormente. Dessa forma, o Waze compreende melhor o traçado e a disposição das ruas, bem como a forma de dirigir dos seres humanos – repleta de peculiaridades.
Uma ferramenta tão poderosa não viria sem soluços. Conforme mais gente depende do aplicativo, também surgem comportamentos questionáveis. O ano de 2017 foi marcante nesse sentido, porque, num determinado dia, o app mandou uma enxurrada de motoristas para a avenida 23 de Maio, uma das mais importantes de São Paulo. Ele dizia que a via estava vazia. Não demorou muito para que o enxame de veículos travasse o trânsito da maior cidade brasileira. Os encarregados do software admitiram a ocorrência de um bug e pediram desculpas.
Já nos Estados Unidos, moradores de pequenas cidades estão aborrecidos porque o Waze passou a mostrar pacatas ruas de seus municípios como rotas alternativas para regiões urbanas adjacentes, causando aumento do congestionamento. Ao tirarem proveito da colaboração, esses municípios decidiram relatar – incorretamente – buracos e outros problemas para tentar burlar a inteligência do sistema e evitar a chegada de visitantes.
O Waze vem se preparando para dois passos importantes, um nacional e outro mundial. No Brasil, a empresa prepara o lançamento de um serviço de caronas. A ideia seria conectar pessoas que vão para o mesmo lugar. Diferentemente do que acontece no Uber, no serviço chamado de Carpool não haveria cobrança de tarifas, mas sim o repasse de ajuda de custo do carona para o dono do carro. A modalidade, por enquanto, não decolou apesar de ter sido anunciada no país.
Enquanto isso, no planeta, a ordem da vez é dominar os computadores de bordo presentes nos carros mais modernos. Estão em curso testes para o sistema que funciona em parceria com smartphones Android, chamado de Android Auto. A promessa é de uma navegação mais segura e precisa.
O Waze surgiu num dos países mais prósperos para novas ideias: Israel, que respira startups. Nem por isso, porém, deixou de atrair as maiores empresas de tecnologia do planeta. Não por acaso, foi comprado em 2013 pela Google, numa aquisição avaliada em US$ 1,2 bilhão. Hoje em dia, o Google Maps utiliza parte dos dados do Waze para, também, oferecer rotas melhores.