O “novo normal” da China é explicado, em parte, pela desaceleração do crescimento, pelo maior protagonismo do consumo interno e por uma economia mais equilibrada e focada em inovação. Esse é o resumo da palestra ministrada, nesta segunda-feira (14), por Jeongwen Chiang, professor da CEIBS (China Europe International Business School), escola de negócios onde acontecem as palestras da Missão Internacional do Sistema Transporte.
Aos empresários e executivos que estão em Xangai para uma jornada de inovação, Chiang apontou três motivos que diferem a China atual daquele país que, há alguns anos, vivenciava um forte crescimento (PIB de 8,15% em 2021 contra 5,24% em 2024):
Segundo o professor, mesmo a despeito de outros desafios, como o envelhecimento da população e a desigualdade de renda, o país se mantém como uma terra de oportunidades.
“Isso porque a escala de consumo continua a se expandir e as cadeias de suprimentos e infraestruturas do país não podem ser facilmente substituídas por outros países”, disse.
Chiang se refere, por exemplo, à competitividade do ambiente digital da China, que levou a Shein a superar gigantes como a Macy’s, a Amazon e o Walmart. Em cinco anos (2019 a 2024), a plataforma chinesa aumentou em 80,7% as vendas líquidas globais, chegando à cifra de US$ 1 bilhão.
De acordo com Chiang, esse e outros cases de sucesso se devem a pelo menos seis estratégias:
O case da Luckin Coffee, concorrente da Starbucks, também foi usado como exemplo. Atualmente, a maior rede de cafeteria da China conta com mais de 20 mil lojas em todo o país enquanto a americana tem apenas 7 mil. Isso se deve a táticas digitais como:
Com a população altamente conectada e sempre online, o comércio eletrônico da China é o maior do mundo. Para se ter ideia, o país responde pela maior taxa de penetração de pagamentos móveis (39,5%), à frente de países como Coreia do Sul (29,9%), Vietnã (29,1%), França (26,1%) e Reino Unido (20,3%).
“Na China, a internet tem cobertura para celular em qualquer lugar, inclusive em áreas remotas. E as pessoas a usam para tudo: acessar redes sociais, fazer busca e transações pelo celular, com pagamentos eletrônicos, inclusive de tributos. Para fazer tudo o que você precisa no dia, são necessários quatro aplicativos: Alipay (pagamento digital e outros), Wechat (pagamento digital e chat), Baidu (ferramenta de pesquisa) e Taobao (plataforma de mercado de varejo online B2C)”, finalizou.
No período da tarde, a delegação brasileira assistiu a uma palestra ministrada pelo professor Shan Hong Yu, da CEIBS, que abordou o papel crescente da agenda ESG como força de mudança para empresas de todos os setores e tamanhos.
Aos participantes, ele mostrou que as práticas ambientais, sociais e de governança não contradizem o fator financeiro. De acordo com Shan, elas são, na verdade, fator chave para a criação de valor e para a resiliência das empresas.
Segundo ele, muitas empresas chinesas fazem parte da cadeia de suprimentos da Europa, motivo pelo qual a sua apresentação teve como foco as questões do ESG nesse continente.
“Os dados sobre ESG não têm sentido sem a compreensão dos regulamentos. No caso da Europa, há três normas: a Taxonomia Financeira Sustentável, a SFDR e a CSRD”, disse.
Taxonomia Financeira Sustentável: sistema de classificação para identificar quais atividades econômicas realizadas ou investidas podem ser ambientalmente sustentáveis, de nível verde.
Para ser classificada como compatível ou consistente, ela precisa:
1) contribuir de forma substancial para um ou mais objetivos ambientais, como mitigar mudanças climáticas e proteger ecossistemas saudáveis;
2) não causar dano significativo aos objetivos ambientais;
3) conhecer o mínimo de segurança social; e
4) atender aos critérios da seleção.
SFRD (Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis): focado no setor financeiro, ele trata dos requisitos de divulgação do ESG; do nível do produto de investimento; e da lavagem verde, ou seja, estratégia de marketing que visa dar às marcas uma falsa aparência de sustentabilidade sem aplicá-la na prática.
CSRD (Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa): em vigor desde janeiro de 2023, é direcionada a grandes empresas privadas ou listadas na Europa. Desde o ano passado, elas precisam emitir um relatório de ESG junto a seu relatório financeiro.
Ao longo da palestra, Shan Hong Yu mostrou como integrar os princípios ESG às estratégias corporativas, tendo discorrido também sobre a forma eficaz de responder aos desafios e identificar as oportunidades do mercado.
A Missão Internacional da China, em Xangai, começou no dia 10 de outubro e segue até esta sexta-feira (18).
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