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Rodovias e ferrovias em estado precário, mal conservadas. Aeroportos com pequena capacidade para transporte de cargas, além de terminais portuários ineficientes e operando com excesso de burocracia. Segundo o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, este é, infelizmente, o atual cenário dos setores de infraestrutura e transporte no país, atualmente.

Em entrevista à Agência CNT de Notícias, Resende comenta os principais problemas que dificultam o desenvolvimento do transporte no Brasil. Apresenta dados e mostra como o governo brasileiro investe pouco na área e peca pela falta de planejamento dos projetos. A situação, destaca, é contrária aos procedimentos adotados em potências como a China.

Confira:

Quais os principais problemas que o Brasil enfrenta na área de infraestrutura?

Começando pelas rodovias há um problema que é a alta dependência deste modal. O Brasil tem quase 1 milhão e 700 mil km de rodovias, envolvendo as esferas federal, municipal e estadual, e menos de 14% são asfaltadas. A administração está nas mãos do poder público, que faz poucos investimentos. A maiorias das cargas é transportada pelo modal rodoviário, o que provoca um grande desgaste nas estradas e reduz a qualidade delas.

Em relação às ferrovias, a questão fundamental é a baixa densidade ferroviária ou a ausência de corredores ferroviários. Existe um vazio ferroviário no Brasil, principalmente nas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A participação das ferrovias em nossa matriz de transporte deveria ser, no mínimo, de 38%. Outra questão é o fato de a maioria dos trilhos transportarem minério de ferro. É preciso transportar cargas com maior valor agregado.

E como está a situação dos portos e aeroportos?

Nos portos encontramos um nível de ineficiência muito grande. O porto brasileiro é ineficiente, quando comparado com a referências mundiais como Cingapura e Roterdã, na Holanda, por exemplo. Nossos portos são ineficientes por falta de investimentos históricos. Além da falta de modernização, existe a influência política, que é muito grande, e a questão da burocracia. Esses três elementos se associam à concentração portuária, ou seja, poucos portos com muito volume movimentado, como Santos (SP) e Paranaguá (PR).

Nos aeroportos, o transporte de cargas é quase inexistente. Ele representa menos de 1% da matriz de transporte do Brasil, com grande concentração nos terminais de Guarulhos (SP) e Viracopos (SP). Temos uma baixíssima qualidade nos serviços. De um modo geral, os quatro modais precisam de muito investimento.

O Brasil está investindo menos que o esperado em infraestrutura?

Países emergentes e desenvolvidos chegam a investir até 8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em logística de transportes. O Brasil jamais passou dos 2%, mesmo assim nos períodos de pico. A média dos últimos 30 anos é de apenas 0,8% do PIB. Isso coloca o Brasil na última posição entre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Se fôssemos considerar os investimentos necessários para os próximos dez anos, o Brasil deveria investir, segundo os nossos levantamentos, US$ 80 bilhões por ano, durante dez anos. Mas se pegarmos a média da última década, o valor total não chega a US$ 200 bilhões. Significa que o Brasil investiu menos de 25% que o necessário.

Isso quer dizer que os investimentos não estão acompanhando o crescimento da economia...

Não, não estão. O resultado dessa falta de investimentos é queda de competitividade. O Brasil é um país cada vez menos competitivo, tanto no cenário global como nacional. Isso significa que o brasileiro está pagando mais caro pelo que consome.

A China, por exemplo, investe um percentual maior do PIB em infraestrutura, existe mais planejamento...

O Brasil não tem planejamento em infraestrutura de transporte e, na China, existe um conceito que poderia ser adotado aqui – a elaboração do projeto executivo antes da licitação. Essa mudança resolveria uma das nossas grandes mazelas ligadas à corrupção. O Brasil é o país dos aditivos, ninguém quer saber o detalhamento do projeto. Os brasileiros entram às cegas na concorrência ou licitação e, depois, quando vão desenvolver o projeto executivo, enfrentam dificuldades e precisam ficar aditivando os orçamentos.

Essa é uma prática brasileira que precisa acabar. Na China, os projetos não são executados antes que se conheçam as suas dificuldades ou variáveis técnicas.

Existe algum outro exemplo que mostre como os chineses são mais eficientes nesse sentido?

Podemos traçar uma comparação com as ferrovias. Os chineses, do pré-projeto ao início da operação de um sistema sobre trilhos, gastam 60% do tempo planejando e 40% realizando a obra. No Brasil, apenas 20% do prazo é dedicado ao planejamento e os 80% restantes são para a execução do projeto. Os brasileiros não planejam, vivem de surpresa. Os chineses evitam enfrentar estes problemas no decorrer do empreendimento.

O Programa de Investimentos em Logística (PIL) do governo federal é um avanço para melhorar o setor de infraestrutura no país?

Sim. Antigamente, existia um pensamento no Brasil de que o orçamento público seria suficiente para arcar com as demandas de infraestrutura e logística do país. Isso foi um erro histórico. O Plano de Logística traz o investidor privado para o papel de ator principal nesse novo movimento. A gente só espera que o governo não decepcione os investidores, quebrando contratos ou mudando regras a todo o tempo. O governo precisa entender que o investidor estrangeiro joga com regras sólidas de mercado, sinais de instabilidade não vão trazer investimentos privados para o país.

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