O mercado mundial dá indícios de recessão branda em 2023, mas que pode se agravar ou prolongar dependendo da resposta dos bancos centrais à inflação ainda elevada e à fragilização do sistema bancário após falências e vendas de instituições financeiras nos Estados Unidos e na Europa. Essas preocupações ecoam também no Brasil. No caso do setor transportador, somam-se a tais intercorrências a retomada de impostos sobre combustíveis, a maneira como será feita a reforma tributária e a manutenção da taxa de juros em patamar elevado, o que inibe investimentos dos setores produtivos.
Esse é o cenário econômico que se avista para 2023 e 2024. A perspectiva foi apresentada, nessa segunda-feira (10), durante palestra promovida pela CNT a empresários e representantes do setor. A exposição foi ministrada pelo economista Fernando Sampaio. “Fica difícil fazer apostas otimistas em um ambiente global desses”, observou.
O economista avaliou que, no caso do Brasil, ano passado foi melhor do que o inicialmente previsto em termos de atividade econômica. O pacote de benefícios, associado a desonerações de combustíveis, energia e telecomunicações, aqueceram a economia doméstica e o PIB acabou crescendo 2,9% em 2022.
“Ou seja, o conjunto de medidas deu certo. Só que, neste ano, é inevitável desacelerar, em função do fim das desonerações e da taxa básica de juros em 13,75% ao ano”, ressaltou Sampaio. O especialista ponderou, ainda, que será um grande desafio a inflação brasileira chegar e ficar em 3% ao ano. “A média dos últimos anos é de 6,5%”, explicou.
Em relação à reforma tributária no Brasil, o impasse de fazê-la ou não deve continuar, segundo Sampaio. Ele avalia que apesar de o debate sobre a necessidade de se reestruturar o sistema tributário estar mais maduro, ainda não está consensual. Existe apoio dos presidentes da Câmara e do Senado e de parte dos governos estaduais, mas as propostas discutidas até então, desoneram a indústria e não levam em consideração a realidade de outros setores, inclusive do transporte. Áreas cuja tributação deve se elevar significativamente.
Na melhor das projeções, com a virada de ano de 2023 para 2024, a economia mundial segura a recessão em um patamar leve e o governo brasileiro consegue aprovar o novo arcabouço fiscal e realizar a reforma tributária. Isso pode levar, paulatinamente, à queda do dólar e dos juros. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB) cresce e a inflação baixa. No caminho oposto está a chance de a inflação não ceder, os bancos centrais manterem os juros altos e, no Brasil, as mudanças do quadro político serem insuficientes para alavancar a confiança do mercado.